Festa do Rosário de Igarapé reúne 22 guardas do congado de cidades vizinhas
A comemoração reuniu mais de mil pessoas no bairro Fernão Dias durante todo o dia e parte da noite
Publicado em 25/06/2018 16:27 - Atualizado em 26/06/2018 09:27
A comemoração reuniu mais de mil pessoas no bairro Fernão Dias durante todo o dia e parte da noite
O domingo (24/6) foi de fé, devoção e ritual sagrado para a Guarda de Congado da Irmandade de Moçambique de Nossa Senhora do Rosário e São João Batista, em Igarapé.
Com apoio da prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Esportes, Lazer, Cultura e Turismo, a guarda igarapeense recebeu a visita de outras 22 guardas para a grande festa de louvor à Nossa Senhora do Rosário e outros santos de devoção dos congadeiros, no bairro Fernão Dias, sede da irmandade.
O capitão-regente da guarda do Congado de Igarapé, José Maria Souza Mota (Marambaia) estima que mais de mil pessoas tenham participado da festa, que começou às 5h da manhã e só terminou por volta das 21h.
A alvorada matinal, uma pequena procissão dos anfitriões para anunciar o início da festa, abriu a extensa programação que incluiu muita música, dança, orações, além de comida farta como café da manhã e almoço para todos os visitantes.Já o encerramento dos festejos, foi celebrado com uma grande procissão, dessa vez envolvendo todas as guardas pelas principais ruas do Fernão Dias.
O dia frio e nublado não impediu a presença de todas as guardas convidadas, que aos poucos, uma a uma, foram desembarcando no bairro, ao longo de toda a manhã, para a grande festa da tradição de fé da cultura negra.
Festa de Resistência
Incorporando os personagens de reis, rainhas, portas-bandeiras, capitães-regentes, dançantes, cantadores e caixeiros, cada grupo de congado - também denominado de reinado-, alegrou o público com o batido e o ritmo de suas caixas, folhas e gungas.
Nos cânticos de louvor a Rosário, a comoção também teve presença garantida, como neste refrão: “Ainda me lembro no dia de hoje , eu me lembro com alegria quando Nossa Senhora me coroou com o rosário de Maria”.
Comoção que a segunda capitã-regente da Guarda de Marujos Nossa Senhora do Rosário de Roça Grande, de Sabará, Cássia Aparecida Lopes, 53, também não esconde ao falar de sua fé. “Venho à festa do Rosário de Igarapé todos os anos. Ainda dentro da barriga da minha mãe, ela prometeu que eu caminharia sempre louvando Nossa Senhora do Rosário – a protetora do negros, promessa que carrego no coração e na alma”.
“A festa de Nossa Senhora do Rosário é uma festa de resistência”, avalia o historiador e também capitão-regente da guarda do Congado da região do Citrolândia, em Betim, André Bueno. “Querendo ou não, ainda existem preconceitos contra nós, negros, e somos tolhidos de nossos direitos sociais e religiosos. Assim, a festa que tem influência católica e africana é uma resposta a essa discriminação que perdura há 300 anos”, complementou Bueno.
História
Orgulhosas de terem nascido no Congado, Raquel Neto, 44, e Ana Carla Simões,17, ambas da guarda do município de Piracema, também prestigiaram a festa do rosário, em Igarapé, e nos contaram a história que é passada de geração em geração sobre a origem da devoção dos negros à Nossa Senhora do Rosário.
A história remonta ao período de chegada dos primeiros navios negreiros ao Brasil. “Os brancos, senhores que mantinham negros no cativeiro, construíram uma capela de ouro para abrigar a imagem da santa. No entanto, essa imagem sempre voltava para o mar. Certa vez, alguns escravos a buscaram no mar e a colocaram em um altar simples erguido por eles na senzala. Desse dia em diante, Nossa Senhora nunca mais voltou para o mar. Daí a conclusão que Rosário é mesmo a protetora dos negros”, afirmaram as integrantes do Congado de Piracema.
Todos esses detalhes sobre a história são representados nos ritos e coreografias do congado. O Reinado conta com duas guardas: a guarda de Congo e a de Moçambique.
Os moçambiqueiros usam as cores de Nossa Senhora: o azul e o branco. Já os congadeiros se vestem de rosa e flores coloridas, que simbolizam o caminho de galhos e flores para a passagem da santa.
Durante a apresentação do congado, o congo anuncia a chegada dos filhos de Rosário com seus ritmos rápidos e ágeis . Assim, eles abrem passagem para que Moçambique conduza reis e rainhas do reinado africano; Nossa Senhora do Rosário e demais santos de devoção.
por Assessoria de Comunicação